sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Acompanhando o dia a dia de Priscila em Machanga - Sofala!


Lembrando que Priscila foi para Moçambique pelo programa YAMEN (Rede de Intercâmbio Anabatista Menonita para Jovens) um programa de parceria entre a CMM (Conferência Mundial Menonita) e MCC (Comitê Central Menonita). Coloca ênfase em ampliar a comunhão entre igrejas de tradição anabatista e desenvolver lideranças jovens ao redor do mundo. Se quiser mais informações sobre este programa entre no site www.mcc.org.br/intercambio ou envie um e-mail para Andrea Mendes, coordenadora do programa: mtavand55@gmail.com

Priscila escreve como uma poetisa “... as noites parecem ser tiradas de contos, o céu aqui parece não fazer acepção de estrelas, pois a impressão que tenho é de que todas podem ser vistas daqui. A via láctea se mostra a cada nova noite, a lua quando está presente dá um show particular por mais minguante que seja, é simplesmente linda...”

Separe um tempo e leia o diário dela! Conheça melhor o campo missionário em Moçambique! ore, interceda, se envolva! O e-mail da Priscila é: priscilinha_sant@hotmail.com


31 de agosto de 2010

Saudações de Moçambique,

Depois de quase um mês de minha partida, aqui estou em Moçambique. Sai de São Paulo dia 11 e fui para os Estados Unidos para uma semana de orientação. Cheguei em Maputo dia 21, a capital, onde tive mais orientações sobre o pais. O pais é muito bonito com praias e rios e flores rosa choque J, nem todas as praias são próprias para banho, mas isto acontece no Brasil também, então, nada de novo… Depois de alguns dias em Maputo fui para Beira, onde fica o escritório sede da MCC (Comitê Central Menonita). Foram quase 17 horas de ônibus! Em Beira mais reuniões e encontros. Parece que a minha jornada não terá fim, depois de Beira viajei de carro para Chimoio e Tete. Mais muitas horas só para mencionar. Em Tete fui a Igreja Menonita do Pastor Luiz, ele esteve em São Paulo em julho com um grupo de Moçambicanos e se não me engano foi hospedado na casa da Larinha e Osmar, seguem algumas fotos dele e família. A Igreja se reúne nas dependências de uma escola já que a construção de um templo próprio parece não ter fim com tanta burocracia de documentação. O Pastor Luiz mandou um grande abraço a todos e mencionou que uma oferta para esta obra foi levantada no Brasil e o dinheiro arrecadado está guardado esperando para ser usado assim que a documentação da construção for liberada. Parece que eles já começaram a obra , mas tiveram que parar e agora irão retomar com grande alegria. A sala de aula usada para a comunhão dos irmãos estava cheia o que me deixou muito contente. A água é um grande problema por aqui, em Maputo e Beira eu não tive problemas mas em Tete não tinha água quando chegamos e a casa onde estávamos tinha água estocada em alguns baldes e esperavam que a água chegasse no outro dia. Bom a água não veio, e depois do jantar não tínhamos mais água alguma, nem para beber, pois a estocada já tinha ido toda. Depois de um domingo quente (ainda bem que estamos no inverno, pois os verões por aqui podem chegar ate 50 graus facilmente), de igreja de manhã, visitas a tarde, esconde-esconde no meio do nada com as crianças, pé no chão – e chão de terra, subir em arvores… hummm fui dormir sem tomar banho, esperando que a água viesse pela manha já que teríamos que partir para Chimoio novamente. De manhã a boa noticia: pode tomar banho! Yupi. Foi ótimo! Em Chimoio conheci uma pernambucana chamada Carmen que está sendo o contato de Paulo Campos para o envio do casal que em breve estará por aqui. Agora estou escrevendo esta carta enquanto no caminho de volta para Beira, como a internet também é um grande desafio, achei que seria melhor escrever no caminho de volta e chegando em Beira recorto e colo no e-mail. Ainda não comecei a trabalhar, viajo para Machanga na sexta-feira, meu local de trabalho. A comunicação não será muito freqüente já que não ha muita energia elétrica disponível. Uma vez por mês, irei a cidade para compras e internet. Machanga é um área rural sem água corrente, ou seja, banho de balde entre tantos outros desafios. O País tem muitas necessidades mas tem crescido bastante. O rio Zambezi em Tete é lindo e a ponte parece a de São Francisco. O rio é cheio de crocodilos e hipopótamos. Ainda não encontrei o Pastor Paulo para entregar a oferta do ministério infantil recolhido na escola dominical. Mas em breve o farei. Como ainda não estou no meu campo de trabalho, ainda não sofri muito o choque cultural, já que tenho me alimentado muito bem e tenho estado em boas hospedagens. Orem por mim, principalmente pelas viagens já que as estradas aqui são bem precárias e os percursos bem longos. Esta sexta-feira irei para Machanga de carro, onde devo ficar a maior parte deste ano. Vou viajar muito em chapas também, chapas são como as nossa lotações em horário de pico, só que um pouco mais cheias e com a presença de galinhas e bodes. Aqui tem muito bode, cabra, cabrito… é impressionante, por todo o lado mesmo. No daycamp o tema foi viver na contramão do mundo e para mim não poderia ser mais adequado. Me sinto realmente na contramão, dirigir por aqui é do lado direito, as faixas são trocadas, o transito é uma loucura e ainda não me acostumei a ver motoristas do lado direito. A melhor que descobri: aqui é necessário ter habilitação para andar, ou melhor, dirigir uma bicicleta! Da para acreditar? Já encontrei muitas pessoas interessantes estes dias e estou muito feliz por estar aqui. Estou ansiosa para conhecer as meninas na sexta-feira , e disposta a aprender Ndau, apesar de português ser a língua oficial, muitos dialetos percorrem o pais e as pessoas se comunicam em suas línguas nativas, mesmo nas igrejas! Algumas tem interpretes em português, ufa! Bom, já esta longo demais eu sei… hehehe

Um grande abraço cheio de saudades da,

`menina de Machanga` (o apelido que me deram aqui, J)

17 Setembro de 2010

(Desculpe mandar e-mails tão longos, mas como não tenho muito acesso a internet quando tenho tento informar o máximo que posso :)

Olá Amados,

Começo esta carta descrevendo o céu de Machanga, as noites parecem ser tiradas de contos, o céu aqui parece não fazer acepção de estrelas, pois a impressão que tenho é de que todas podem ser vistas daqui. A via láctea se mostra a cada nova noite, a lua quando está presente dá um show particular por mais minguante que seja, é simplesmente linda. O céu a tarde é uma outra obra de arte. O pôr do sol parece pintado de aquarela, manchado como feito por uma criança. É interessante como a tarde o céu parece estar ainda inacabado e a noite parecer tão explendido e perfeito. Machanga está literalmente no meio do nada, nada de tecnologia ou conforto, mas a simplicidade do lugar e das pessoas faz com que este pequeno distrito seja notável.

Desde que cheguei em Moçambique, tenho estado em muitas provincias e cidades, Maputo, Beira, Chimoio e Tete, todas com seus problemas, belezas naturais, e um certo desenvolvimento, Machanga no entanto parece estar esquecida. A vida aqui no lar, local onde estou como uma "tia" junto com 44 garotas mais 2 tias, 1 cozinheira e 1 guarda noturno, não é fácil, mas também não é tão difícil. Um dia rotineiro é o seguinte: o sino toca as 4:45, as meninas levantam e começam as tarefas antes de irem a escola, basicamente regam e cuidam das pequenas plantações, as que estudam de manhã trabalham na "roça" a tarde e as que estudam a tarde, de manhã. Eu dei-me o privilegio de acordar as 6h, 6:30, antes das 5h ainda não dá para mim... O almoço para as que estudam a tarde é por volta das 11h e das que chegam da escola a tarde por volta das 13h30, o jantar as 18h30 e as 20h todos nos reunimos para uma oração antes de irmos dormir. Claro que neste meio tempo muitas outras coisas acontecem. A questão da agua por exemplo, temos agua em abundancia que vem de um poço, agua limpa, inclusive para beber, o problema é carregar a agua... eu já acostumei, um balde de agua de manha para tomar banho, outro balde para lavar o chao do quarto, mais um se tenho roupas para lavar, daí já é hora de pegar mais um outro para mais um banho e um outro no fim da tarde para um terceiro banho. Como há muita terra e vento é inevitavel não tomar pelo menos tres banhos por dia. Os banhos são de balde e agua fria, mas não tive preblema algum com isso, já acostumei e tento tomar o ultimo banho antes das 17h para não ficar com frio, mas as vezes tomo banho a noitinha mesmo, apreciando as estrelas. As casas de banho são 4 chapas de aluminio sem teto. As latrinas também. Por mais dificil que pareça ser, não é. Não estou tento problemas com a adaptação aqui no lar, o estilo de vida nada mais é do que simples. Mas a comida... aqui no lar não posso dizer que gosto, eles se alimentam meio que para sobreviver e comem demais, demais arroz ou chima (uma papa feita de milho que pode substituir o arroz), para acompanhar geralmente é repolho ou feijão ou camarão seco ou uns peixinhos secos e super salgados, mas a proporção de arroz para tal complemento é terrível, as vezes comem uma bacia de arroz (cada uma) e um ou dois peixinhos, e são peixinhos mesmo, tipo os que compramos na feira para por em um aquário! Já conheci alguns vizinhos e ainda bem que sempre sou chamada para almoços... Nos vizinhos como muuuuuuuiiiiito bem. As roupas são lavadas a mão e estendidas no arame farpado que cerca o lar. Eu faço o mesmo. Eletricidade não há, temos uma bateria que armazena energia solar, o que nos dá cerca de tres horas de luz a noite, o que necessitamos basicamente, já que vamos dormir por volta das 20:30.

Faço atividades com as meninas na parte da manhã e também a tarde, como faz pouco mais de uma semana que cheguei aqui no lar, ainda não estou dando aulas de verdade e tenho aproveitado o tempo para conhecê-las melhor e passarmos tempo juntas.

Elas falam português comigo, mas entre si só em Ndau, as tias falam pouquíssimo português, o que me deixa um pouco perdida, pois não recebo ordens de ninguém, tenho que perceber o que esta acontecendo ao redor e perguntar, se estiver interessada em saber. Não tenho um cronograma certo e eu faço meu horário de atividades, assim como o conteúdo também. Por enquanto, tenho trabalhado com atividades físicas, jogos e algumas atividades de auto-conhecimento e auto-estima. Logo quero trabalhar com educação sexual, já que algumas saem de férias e não voltam por estarem grávidas, devocionais, estudos biblicos, algumas conhecem a verdade e são batizadas, outras não, inglês e português. Também as ajudo com as lições de casa da escola, geralmente português, inglês ou francês. Elas até tentam pedir minha ajuda em fisica mas não consigo ajudar muito hehehe.

A igreja é bem lotada mas muito deficiente. Não há Biblias disponiveis e os membros tambem não as tem. O culto é feito em Ndau, ou seja, eu não entendo muita coisa. Sei que o pastor é serio, mas me preocupo com a comunidade por não terem acesso a Palavra. Quanto a isso, não posso fazer muita coisa infelizmente.

Estou aprendendo a lingua aos poucos, mas não é nada facil, sei saudar as pessoas na rua, dizer tchau e basicamente só. Mas já reconheço algumas outras palavras e sei quando estão falando de mim, pois me chamam de "Muzungo", que quer dizer branco(a), ou seja, se ouço "Muzungo" no meio, já sei que estão falando de mim.

Me despeço com saudades e um tchau em Ndau: "Topinda".

 
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