segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique VI - "Brasil em Moçambique?"

BRASIL EM MOÇAMBIQUE?

Numa linda noite de céu estrelado, os muzungos, pisando com cuidado na calçada escura que dá entrada ao Hotel Prince, chegam para encontrar com uma comitiva brasileira que viera para Moçambique.

Na primeira vista vêem uns missionários e pastores folgados se deliciando nas águas tépidas de uma piscina. Amados, estes irmãos queridos não estão fazendo turismo! Eles tiveram um longo e extenuante dia, dando seminários aos lideres moçambicanos. Naquele momento impar e terapêutico, eles deixavam nas águas da pequena piscina, todo cansaço do dia de trabalho.

Aqueles pastores e missionários que vieram para ficar iriam dormir muito pouco naquela noite, pois no outro dia sairiam em dois grupos às quatro horas da manhã, para enfrentar seis horas de barco para chegar à ilha de Machanga.

Pr. Anézio Massuia falando com voz alta de dentro da piscina diz: Irmãos vamos jantar, façam seus pedidos com antecedência porque aqui a “coisa demora” pra chegar à mesa. Estão vendo aquele galpão coberto? Lá tem uma mesa que reservei para mais de vinte brasileiros.

Depois de sair da piscina notei que a bermuda do Pr. Anézio era maior do que acostumava usar. Logo alguém me explicou que um irmão com peso e altura considerável havia emprestado sua bermuda para o esguio líder se refrescar um pouco. Porém, devia tomar cuidado para não fazer movimentos bruscos, se não o imprevisto poderia ser visto!!!!

Imaginem uma grande mesa cheia de brasileiros: de Ribeirão Preto, Brodowisk, Santa Bárbara do Oeste, Nova Odessa e outros lugares. Ali graças a Deus, ninguém falou de denominação, nem de “minha igreja”, nem de conversa chata de pastor perguntando quantos membros tem na sua igreja. O assunto predominante era a obra missionária.

Assentados à mesa “invadida” por brasileiros, tinham um rebanho e um só pastor: Jesus.

Pr. Anézio (o brancão) de barbas brancas serrada, com a gentileza que lhe é peculiar, apresenta cada irmão; nome por nome. Depois disto sem querermos fazer grupos, cada um com muita expectativa ardendo no coração, conta aos que estavam mais próximos o que viera fazer em Moçambique. Conversa vai, conversa vem, e: cadê o frango a zambeziana, o frango grelhado, a galinha ao molho, cadê?

Os assuntos desafiantes vão dando lugar ao silêncio, deixando claro que o estomago reclamava alto por comida, urgente, pois havia passado mais de uma hora e meia quando fizeram o pedido.

”Pr. Paulo Campos”, do meio da mesa apinhada de brasileiros, grita o pastor Anézio! “Faça uma oração de agradecimento pelo nosso encontro e também pelo alimento que vamos comer”. Assim que terminei a brevíssima oração, começaram a tilintar garfos cortando tudo que tinha no prato.

Pra ficar mais “nice” a luz foi apagada e sob luz de lanternas devorávamos a comida. Sob luz de lanterna, amados, porque a energia tinha acabado, coisa comum nesta terra dos irmãos moçambicanos. Aí sim, a bagunça estava organizada. Agora mais à vontade nos interagíamos com mais facilidade:

“Gente vira a lanterna pra cá, não consigo enxergar o frango pra cortar”, outro dizia: “Por favor, irmão, segure a lanterna de meu celular porque posso errar a boca, vai que eu enfie a comida no nariz!”. E assim o Brasil em Moçambique teve uma linda noite de confraternização.

Já que a luz não voltava mesmo, pois o hotel não renovara seu pedido de energia, o “negócio” foi terminar o encontro com as palavras de ordem do Pr. Anézio para as duas equipes que no outro dia partiriam as quatro da matina.

Depois de nos abraçarmos, despedimo-nos de cada um desejando um bom trabalho missionário nestes dias que iriam ficar nesta terra hospitaleira de Moçambique.

Tateando nas trevas com muito custo e barriga cheia, conseguimos chegar onde estava nosso carro (da missão) e voltarmos para o MCC, lugar onde estávamos muito bem hospedados.

Já deitado em minha cama, minha mente insistia em fazer-me perguntas em hora inadequada. O Senhor queria falar comigo! Porque tantos brasileiros estão vindo para Moçambique? Tá certo que tem brasileiros em todos os cantos do mundo, aleluias, glória a Deus!

Porque a maioria está vindo para esta terra, insistia a pergunta! Já quase chegando o sono, o Senhor respondeu suavemente: Meu plano é fazer desta nação, um povo escolhido para ganhar a África para o Senhor Jesus.

Ao som do coaxar de dois sapos cururus bem grandes que cantavam alternadamente lá embaixo do prédio de uns quatro andares, fui pegando no sono! Silêncio, zisssssssssssss......

Paulo Campos


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique V - "Mbia-bongue dá sua comida como oferta"

MBIA-BONGUE DÁ SUA COMIDA COMO OFERTA

Depois de andarmos km mato adentro que escondia a estrada esburacada pelas chuvas, chegamos onde estava a igreja (mais parecia uma palhoça), “casa” de bambu coberta por capim.

Vestidas com capulanas de colorido forte e lenços tipicamente enrolados na cabeça, as mulheres, algumas com seus filhos envolvidos em capulanas amarradas ao pescoço, pendurados como se fosse um saco nas costas, juntas aos homens portando camisas de mangas longas de preferência brancas, e calça social, sapatos surrados que tentavam esconder os dedos que insistiam em aparecer pelos buracos e muitas crianças na maioria descalças e jovens portando também o melhor que tinham, nos aguardavam com um misto de curiosidade e muita timidez.

Nem abrimos as portas do carro e o Pr. Paulo Armando Jecinau vem em nossa direção, com passadas largas para nos dar as boas vindas. Amados, portando uma jaqueta velha de jeans, camisa social branca e calças jeans, trazia pendurada ao pescoço uma câmera muito antiga, talvez uma Yashica que balançava pra lá e pra cá à medida que ele apertava seus passos. Sua roupa simples demonstra a pessoa humilde que ele é.

Sr. Campos, que bom que você voltou logo desta vez! Abraçamo-nos carinhosamente, e por ali mesmo juntos com o povo, os missionários se confundiam no meio dos abraços, e apertos de mãos.

Quando nos direcionávamos para a capela onde o culto estava prestes a começar, percebi que os olhares dos pastores escondiam lágrimas ao ver aquilo que eles carinhosamente nos apresentavam como “sua igreja”.

Amados, desde o ano passado quando aqui estive, vi que a velha capela tentava resistir ao tempo, mas, em vão! Estava com seus bambus todos escurecidos e ressecados, alguns que serviam de travessa já não estavam mais suportando o peso do leve e desarrumado capim visivelmente esvoaçado pelo vento.

Que tristeza, né? Não! meus irmãos! Tristeza nenhuma... todos ao entrarem fizeram daquele local, um local de adoração, muito louvor e danças ritmadas pelas palmas e um único atabaque tocado pelo filho do pastor que marcava o ritmo das músicas que subiam à presença do Senhor como aroma puríssimo.

Eles cantam e dançam sua fé por horas seguidas. Dão testemunho dizendo que Deus é bom! Que são felizes porque Deus tem abençoado suas machambas (hortas, plantações)!

Porque Deus tem lhes dado saúde, mesmo que entre eles, amados, muitos estejam doentes. Eles não reclamam! Eles não vivem mais com medo da feitiçaria, ou atormentados pelos espíritos maus. Não! Eles cantam e vivem a libertação que Cristo lhes deu.

Os muzungos esboçam uns pulinhos pra cá e pra lá, meio sem jeito é claro, olhando uns para os outros meio sem graça, e ao mesmo tempo tentando mostrar naturalidade! Mesmo fazendo o melhor que podem amados, é como o estrangeiro aí em nossa terra tentando pular samba.

O culto muitíssimo organizado segue a agenda previamente elaborada pelo Pr. Na igreja Menonita que mais cresce, cada um faz sua apresentação especial, seguida de um elogio e agradecimento do Pr. Logo a palavra é dada ao Pr. visitante, que neste dia foi o Pr. Jair da Comunidade de Brodowisk que veio conhecer nosso projeto.

Enquanto pregava sobre o cego de Jericó, dá seu testemunho vibrante, de como o Senhor Jesus o libertou do mundo do tráfico, dando-lhe uma nova vida. Todos admirados, já no final da mensagem, querem fazer a oração de entrega de suas vidas e pedirem cura, assim como Jesus fez com o cego de Jericó. Muitos aceitam a Jesus.

Agora amados, o Pr. com voz suave e olhar penetrante se dirige a igreja e diz: Irmãos enquanto cantamos uma música suave, vamos trazer as ofertas e dízimos para a “casa” do Senhor.

Sem atropelo, cada um vai se levantando e colocando em cima de uma mesa tosca coberta por uma pequena toalhinha, que serve de púlpito, suas moedas de pequeno valor, embora seja tudo que eles têm.

Nós também não querendo constrange-los; ofertamos notas de alto valor, se comparadas àquelas moedas, embora a intenção fora ajudá-los também com o melhor, sem que isto significasse o tudo que tínhamos.

De repente, quando todos já tinham voltado para os seus lugares, o Pr. disse novamente: Irmãos, agora vamos trazer ofertas para dar aos nossos irmãos que vieram do BrasiL. Achamos muito estranho este pedido do Pr. Jecinau! Eles acabaram de dar suas ofertas, como poderiam “coitados” dar ainda mais?

Com os olhos já marejados e vermelhos pelo esfregar dos dedos e lenços, incrivelmente vemos nossos irmãos moçambicanos entrando pela porta da frente em fila, cada um trazendo sua oferta. Que oferta irmãos! Ao som de seus cânticos de celebração dançavam e cantavam em nossa volta, cada um carregando sua oferta nas mãos e cabeças.

Cachos de bananas, melancias, abacaxis, espigas de milho, abóboras etc. A mesa ficou tão cheia que precisaram colocar no chão. É gente! Estas ofertas eram as primícias do sustento deles colhidas em suas machambas.

Tínhamos que dizer alguma coisa, mas o que falar? Nossa voz estava embargada! Usei a palavra, dizendo que nunca eu tinha visto isto em todo tempo que temos o projeto em Moçambique. Aqueles irmãos fizeram como os crentes de Corinto quando pediram a Paulo, que lhes deixassem contribuir para ajudar os irmãos da Judéia. Paulo escreve que eles “doaram a si mesmos primeiramente a Cristo”!

Quando nossa vida está inteiramente em Cristo, oferecemos com gratidão e sinceridade tudo que temos, sem reservas.

Assim amados, a igreja de Mbia-bongue deu sua comida como oferta. Foi muito sublime e fortemente tocante. Esta e outras atitudes frente à miséria, fome e dor deste povo, nos levaram a refletir, o quanto somos ricos. O quanto podemos e devemos fazer para mudar esta situação sacudindo nosso regaço assim como eles fizeram.

A igreja brasileira e parceiros estão fazendo sua parte! Mas, ainda não é o seu tudo! Tenho plena certeza que cada um pode talvez triplicar suas ofertas, que isto não lhes fará falta alguma. Desafio o amado irmão a orar, interceder por este povo, mas também abrir o tesouro que está em seu coração.

Caso um dia eu retorne a Mbia-bongue, não vou ver mais aquela “palhoça” e sim uma igreja construída de tijolos, mesmo que coberta de zinco ou Eternit. Graças à contribuição de alguns irmãos, doada especificamente para esta comunidade, vamos neste ano começar a levantar as paredes desta igreja.

Amados, a diretoria da junta está deixando aqui com os missionários, um valor expressivo que dará para levantar as paredes desta valorosa comunidade. Que o Deus Salvador os abençoe ricamente, para que tenhais como ajudar estes que tanto necessitam.

A honra seja toda dada ao Senhor Jesus.

Paulo Campos





Notícias de Moçambique IV - "Achamos o pão"

ACHAMOS O PÃO

“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás”.

O autor de Eclesiastes cita um provérbio árabe, recomendando enviar alimento aos outros povos como resultado do esforço próprio e um coração abençoador. Esta operação era de alto risco, porém trazia definitivamente grandes benefícios.

Nos idos de 97-98 Pr. Antonio Carlos de Faria deixa o Brasil e atravessa o mar trazendo pão para o povo moçambicano. Operação de alto risco que quase lhe custou a vida. Jesus, o pão da vida, servido à mesa brasileira pelos missionários americanos, canadenses e uma comunidade alemã fugidos da guerra encravada, no sul do Brasil, agora compartilham o pão com a nação de Moçambique.

Nos meados de 99 chega a primeira família missionária brasileira de João de Brito, Rosa, e sua filha Keren Apuk; chegaram com mais pão... Hoje depois de mais de treze anos; ACHAMOS O PÃO, cumprindo-se literalmente a promessa de Deus citada acima. Vejam como o pão se multiplicou:

Ano de 2012, cidade do Tete, província do Tete. Chegam os três muzungos (brancos no dialeto) e mais dois muzungos e um muzunguinho (missionários, Jefferson, Tania e Jeremy) para visitar a Igreja Menonita do Tete.

No calor implacável de mais de 41 graus os pobres muzungos são recebidos com grande expectativa por todos os irmãos ali presentes.

O culto começa as 9 hs em ponto! A igreja que ainda usa salas da Escola Kakomba, formada na sua maior parte por famílias, que hoje se apresentam com suas melhores roupas, começam a cantar, seguindo o programa do culto, escrito com giz no quadro negro da classe.

Os muzungos com olhares curiosos registram tudo com suas câmeras disparando fleches que brilham, contrastando com a tez negra da pele dos irmãos moçambicanos, que continuam cantando hinos do cantor cristão, ainda ensinados pelo missionário João de Brito. Matamos a saudade daqueles hinos que pelo menos a mim me fez retroceder no tempo dos primeiros missionários que ao Brasil chegaram.

A sala de aula transformada em igreja vai se tornando pequena, pois, mais irmãos vêm chegando. O Pr. Luiz vestido impecavelmente social, sem gravata é claro, anuncia que a igreja agora cantará em dialeto as músicas de seu povo.

De repente alguém do meio da congregação puxa um cântico, e aí meus irmãos ninguém consegue ficar parado, pois ao calor intenso da sala e do sol lá fora começaram a dançar e pular de forma impecável no ritmo tão peculiar que até nós, muzungos impelidos pela alegria esfuziante não agüentamos, dançamos com eles.

Seus cânticos traduzidos alguns pelo Pr. Luiz diziam: Nós somos vencedores porque Jesus nos salvou. A Igreja Menonita não para, não para, continuam crescendo, ei você que não vem à igreja deve vir para ADORAR o Senhor e, por favor, traga também suas crianças. Não faltou o Akuna a Kaita sa Jesu (ninguém é igual a Jesus).

É irmãos, o pão provindo do Brasil, chegou mesmo a Moçambique. Estes irmãos hoje cantam e dançam a sua fé! Estavam com fome da verdade que liberta e que continua libertando. Não vão mais ao raizeiro, nem tão pouco ao feiticeiro! Descobriram que em Cristo tem vida eterna e não precisam ficar com medo dos maus espíritos.

Depois de um vibrante testemunho contado por um senhor, jovens enfileirados vão entrando ao som de um apito marcando as fortes passadas e adentrando a sala cheia, apresentam cânticos especiais acompanhados por uma coreografia perfeita. Nas camisas pólo por eles desenhadas está escrito em azul num fundo branco nas costas: Igreja Evangélica Menonita, e na frente do lado esquerdo; DEUS É FIEL.

Todos são convidados a trazerem suas ofertas e dízimos; As mamás e papás com seus miúdos (crianças) como família, reverentemente depositam numa latinha improvisada o seu compromisso com Deus e a obra. São seguidos de igual maneira pelos demais. Irmãos, observando eu, vi que todos, isto mesmo, pasmem, todos, levaram suas ofertas. É uma igreja exemplo em tudo! Em seguida, respeitosamente a tesoureira Fátima pede a bênção do Senhor e consagra as ofertas, sem “apelação” para famigerada doutrina da prosperidade. É uma oração consciente, espiritual e profundamente dependente da graça de Deus que não falha.

Somos nesta altura do culto apresentados a igreja! Cada pastor se apresentando, fala em poucas palavras da alegria de estarem ali, os missionários também fazem o mesmo.

Segue-se, a mensagem pregada por Estevam; hoje, casado e por ter estado nos Estados Unidos, fala fluentemente o inglês, o português e alguns dialetos, ajudando na maioria das vezes como tradutor. Ele fala do poder da oração e incentiva a igreja a usar esta arma contra o inimigo.

O culto termina com a celebração da santa ceia por mim dirigida como convidado do Pr. Luiz.

Amados de todos os recantos. Esta igreja bem organizada com seus conselhos e também por uma comissão financeira cujo auditor é um empresário convertido (tio do Charles) para quem o conhece, têm hoje em seu caixa um valor de 27 mil meticais, aproximadamente mil e poucos dólares, um valor que talvez dê para terminarem sua igreja no bairro do Canangola.

Eles estão andando com as próprias pernas. Não recebem mais nada do Brasil, a não ser ofertas especiais de alguns irmãos missionários que estiveram servindo aqui e a igreja de Campinas que também ofertou especificamente para esta comunidade.

Para rebocar as paredes da igreja que já está coberta, contam com uma oferta de 15 mil meticais (quase seiscentos dólares), e ainda sobra um pouco para comprar as janelas e portas.

Trouxe comigo uma faixa de uns cinco metros por oitenta centímetros, doada e feita por um irmão da igreja Menonita de Vila Guarani que ama missões. Nela está escrito com letras bem grandes: IGREJA EVANGÉLICA MENONITA DO TETE. Ela será colocada no dia da inauguração deste templo que comportará comodamente mais de duzentas e cinqüenta pessoas.

Achamos o pão depois de muitos dias... (anos)! A igreja, não pode parar, não pode parar. Ela cresce, ela cresce! Não pode parar! Assim diz o cântico em Nhumgue cantado pelo povo de Deus na cidade do Tete.

Amados irmãos e irmãs, que a promessa de bênçãos do Senhor Salvador seja sobre cada um de vocês que tem persistido em semear e nos ajudar com suas ofertas e orações para enviar o pão a esta terra.

Em nome da igreja moçambicana, dos missionários que aqui estiveram em especial do missionário José Antonio de Bachi (em memória) e família, a diretoria da junta e parceiros do Brasil, Canadá, Estados Unidos, nosso agradecimento.

Ainda temos muito por fazer! Investimentos ainda precisam ser feitos! Muito em breve, Moçambique não será mais somente receptor do pão, MAS, parceiros no projeto missionário de Deus, para levar o mesmo pão aos demais países africanos. Nós acreditamos nisto! Deus seja louvado!

Paulo Campos




















quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique III - "Uma perda"

São um pouco mais de 16 hs. A tarde vai caindo na pequena Gondola. No declínio do sol, o calor persiste, suavizado por um bom vento amenizador. A casa da missão vai se perdendo de vista enquanto quatro azungos (homens brancos) andam com firmeza num caminho que os levará a casa duma família ainda enlutada.

A tez branca ou morena destes homens não faz diferença, entre bom dia e boa tarde, quase todos que se cruza com eles os cumprimentam como se fossem uma raça superior. Outros olhando para eles dão risadas falando algumas palavras em mateue (dialeto da região), que não entendemos. Vai saber o que eles ou elas estão dizendo!

Depois de andarmos alguns km, o missionário que vai à frente fazendo sinal que estamos chegando à casa de Fernando Bitone, ex-pastor da igreja menonita de Gondola. Quando nos vê, estranha um pouco, mas vem correndo para abraçar cada um. Quando me vê, diz: Irmão Campos... um longo abraço revela o carinho deste homem que por alguns anos foi o diretor nacional do CIEMM (Conselho das Igrejas Evangélicas Menonitas de Moçambique).

No mês passado ele perdeu sua esposa. Estava com CIDA (HIV), morreu pele e osso. Aqui as famílias não falam que morrem de CIDA, isto é vergonhoso para o marido, que em via de regra anda com outras mulheres. Fernando Bitone disse que ela morreu de malária.

Ele apresenta suas irmãs que estão assentadas em esteiras debaixo de uma frondosa árvore. Elas com voz quase inaudível, responde nossos cumprimentos. São extremamente recatadas.

Os homens sentam-se em bancos ou cadeiras, elas somente nas esteiras, indicando isto que a mulher fica num padrão mais abaixo. As visitas são convidadas a se sentarem nas cadeiras. Pr. Jair, empolgado com tudo que está vendo é o que mais fala. Fala com amor, muito carinho, ele atenciosamente compartilha de sua fé e consola a família enlutada.

Uma criança de apenas dois aninhos está demasiada quietinha nos braços de sua mama. Ela está muito doente, os olhos fundos indica desnutrição, o pai Bitone diz que está com malária, mas é CIDA (AIDS).

Impomos as mãos sobre aquela indefesa criança, clamando por cura. Oramos por toda família e ao abraçarmos a todos, deixamos para traz mais um consoIo e conforto a sofrida família do ex-pr. e presidente da diretoria nacional.

Ao sairmos com soI declinante, o irmão Bitone faz questão de nos acompanhar até parte da estrada. Mais uma vez nos abraçamos e partimos em direção à casa do missionário. Mais um item da extensa agenda estava cumprido de maneira agradável. Bendito seja o Deus Salvador.

Paulo Campos







segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique II - Culto em Gondola

Nestes primeiros dias:

Participamos de um culto em Gondola onde a igreja presente na sua maioria eram crianças e adolescentes. O culto nem tinha começado e elas cantavam e dançavam e ao mesmo tempo orientadas pelos missionários ajudaram a fazer a limpeza da capela que estava muito suja, pois durante a semana pedreiros tinham arrumado algumas rachaduras nas paredes.

O louvor acompanhado por mim ao som de um violão que a Tania comprou, ultrapassava as paredes de barro e teto de zinco, fazendo-se ouvir de longe. Eu não sabia se ficava lá dentro escorrendo de suor intenso ou ia lá fora para ouvir de longe as lindas vozes das crianças e adolescentes marcadas por um excelente ritmo que somente elas sabem fazer.

O culto vai começar; as crianças ainda agitadas começam a repetir uma oração dirigida pelo missionário que os levará a ficar bem quietinhas... bem quietin....bem...silêncio.

Depois de outra oração pedindo a bênção sobre o culto, começa o louvor. Cânticos em dialeto, em português; desta vez, um louvor muito mais vibrante em meio às danças.

Uns adolescentes se apresentam, entrando garbosamente em fila até chegarem ao púlpito onde o Pr. da igreja estava sentado. Ali cantaram, dançaram, fazendo lindas coreografias que não precisou ser ensaiada, isto é nato deles. Em seguida somos apresentados, cada um dos pastores visitantes dá uma palavrinha de saudação e em seguida tenho que pregar, mas, preferi contar uma história bíblica.

Todas as crianças e adultos acompanhavam com atenção a palavra que era traduzida simultaneamente para o dialeto mateue. No final da história fiz uma oração de entrega das vidas para Jesus e muitas crianças recebem a Jesus naquela manhã de domingo ensolarada do dia 5 de fevereiro de 2012. Se todos os domingos fizerem apelo, outras crianças aceitam a Jesus.

Celebra-se a santa ceia e termina-se o culto com a bênção pastoral. Os fleches das câmeras dos visitantes pastores continuam brilhando aqui e acolá, enquanto alguns são envolvidos por um monte de crianças querendo ver as fotos coloridas tiradas naquele instante.

Eles disputam para ficarem mais perto de cada pastor para ver melhor. Como a maioria não tem espelhos em casa, eles têm vontade de vê-los nas filmagens chegando até mesmo a dançar perto do carro que tem um grande retrovisor lateral onde os missionários direcionam para eles, refletindo suas danças sincronizadas por uma perfeita coreografia própria. Conseguimos entrar no carro se desvencilhando deles, pois queriam conversar. O carro ja está em movimento, mas eles grudados e batendo na lataria, gritam em coro: Musungo (homem branco) vai comer rato, Musungo vai comer rato. Infelizmente eles comem mesmo o tal do rato silvestre. Assim termina nossa manhã do dia do Senhor.

Paz a todos! Orem por nós, pois as forças do inimigo tem sido grandes ao nosso redor.

Amanhã visitaremos o ex- pastor da igreja Fernando Bitone, que perdeu sua esposa uma semana antes de nós chegarmos. Causa da morte, CIDA (HIV), eles, não gostam que falem isto. Devem orar também pelo Pr. Bitone, pois está muito doente e deve ser o mesmo problema.

Paulo Campos



















 
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