quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique III - "Uma perda"

São um pouco mais de 16 hs. A tarde vai caindo na pequena Gondola. No declínio do sol, o calor persiste, suavizado por um bom vento amenizador. A casa da missão vai se perdendo de vista enquanto quatro azungos (homens brancos) andam com firmeza num caminho que os levará a casa duma família ainda enlutada.

A tez branca ou morena destes homens não faz diferença, entre bom dia e boa tarde, quase todos que se cruza com eles os cumprimentam como se fossem uma raça superior. Outros olhando para eles dão risadas falando algumas palavras em mateue (dialeto da região), que não entendemos. Vai saber o que eles ou elas estão dizendo!

Depois de andarmos alguns km, o missionário que vai à frente fazendo sinal que estamos chegando à casa de Fernando Bitone, ex-pastor da igreja menonita de Gondola. Quando nos vê, estranha um pouco, mas vem correndo para abraçar cada um. Quando me vê, diz: Irmão Campos... um longo abraço revela o carinho deste homem que por alguns anos foi o diretor nacional do CIEMM (Conselho das Igrejas Evangélicas Menonitas de Moçambique).

No mês passado ele perdeu sua esposa. Estava com CIDA (HIV), morreu pele e osso. Aqui as famílias não falam que morrem de CIDA, isto é vergonhoso para o marido, que em via de regra anda com outras mulheres. Fernando Bitone disse que ela morreu de malária.

Ele apresenta suas irmãs que estão assentadas em esteiras debaixo de uma frondosa árvore. Elas com voz quase inaudível, responde nossos cumprimentos. São extremamente recatadas.

Os homens sentam-se em bancos ou cadeiras, elas somente nas esteiras, indicando isto que a mulher fica num padrão mais abaixo. As visitas são convidadas a se sentarem nas cadeiras. Pr. Jair, empolgado com tudo que está vendo é o que mais fala. Fala com amor, muito carinho, ele atenciosamente compartilha de sua fé e consola a família enlutada.

Uma criança de apenas dois aninhos está demasiada quietinha nos braços de sua mama. Ela está muito doente, os olhos fundos indica desnutrição, o pai Bitone diz que está com malária, mas é CIDA (AIDS).

Impomos as mãos sobre aquela indefesa criança, clamando por cura. Oramos por toda família e ao abraçarmos a todos, deixamos para traz mais um consoIo e conforto a sofrida família do ex-pr. e presidente da diretoria nacional.

Ao sairmos com soI declinante, o irmão Bitone faz questão de nos acompanhar até parte da estrada. Mais uma vez nos abraçamos e partimos em direção à casa do missionário. Mais um item da extensa agenda estava cumprido de maneira agradável. Bendito seja o Deus Salvador.

Paulo Campos







 
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