quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique IV - "Achamos o pão"

ACHAMOS O PÃO

“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás”.

O autor de Eclesiastes cita um provérbio árabe, recomendando enviar alimento aos outros povos como resultado do esforço próprio e um coração abençoador. Esta operação era de alto risco, porém trazia definitivamente grandes benefícios.

Nos idos de 97-98 Pr. Antonio Carlos de Faria deixa o Brasil e atravessa o mar trazendo pão para o povo moçambicano. Operação de alto risco que quase lhe custou a vida. Jesus, o pão da vida, servido à mesa brasileira pelos missionários americanos, canadenses e uma comunidade alemã fugidos da guerra encravada, no sul do Brasil, agora compartilham o pão com a nação de Moçambique.

Nos meados de 99 chega a primeira família missionária brasileira de João de Brito, Rosa, e sua filha Keren Apuk; chegaram com mais pão... Hoje depois de mais de treze anos; ACHAMOS O PÃO, cumprindo-se literalmente a promessa de Deus citada acima. Vejam como o pão se multiplicou:

Ano de 2012, cidade do Tete, província do Tete. Chegam os três muzungos (brancos no dialeto) e mais dois muzungos e um muzunguinho (missionários, Jefferson, Tania e Jeremy) para visitar a Igreja Menonita do Tete.

No calor implacável de mais de 41 graus os pobres muzungos são recebidos com grande expectativa por todos os irmãos ali presentes.

O culto começa as 9 hs em ponto! A igreja que ainda usa salas da Escola Kakomba, formada na sua maior parte por famílias, que hoje se apresentam com suas melhores roupas, começam a cantar, seguindo o programa do culto, escrito com giz no quadro negro da classe.

Os muzungos com olhares curiosos registram tudo com suas câmeras disparando fleches que brilham, contrastando com a tez negra da pele dos irmãos moçambicanos, que continuam cantando hinos do cantor cristão, ainda ensinados pelo missionário João de Brito. Matamos a saudade daqueles hinos que pelo menos a mim me fez retroceder no tempo dos primeiros missionários que ao Brasil chegaram.

A sala de aula transformada em igreja vai se tornando pequena, pois, mais irmãos vêm chegando. O Pr. Luiz vestido impecavelmente social, sem gravata é claro, anuncia que a igreja agora cantará em dialeto as músicas de seu povo.

De repente alguém do meio da congregação puxa um cântico, e aí meus irmãos ninguém consegue ficar parado, pois ao calor intenso da sala e do sol lá fora começaram a dançar e pular de forma impecável no ritmo tão peculiar que até nós, muzungos impelidos pela alegria esfuziante não agüentamos, dançamos com eles.

Seus cânticos traduzidos alguns pelo Pr. Luiz diziam: Nós somos vencedores porque Jesus nos salvou. A Igreja Menonita não para, não para, continuam crescendo, ei você que não vem à igreja deve vir para ADORAR o Senhor e, por favor, traga também suas crianças. Não faltou o Akuna a Kaita sa Jesu (ninguém é igual a Jesus).

É irmãos, o pão provindo do Brasil, chegou mesmo a Moçambique. Estes irmãos hoje cantam e dançam a sua fé! Estavam com fome da verdade que liberta e que continua libertando. Não vão mais ao raizeiro, nem tão pouco ao feiticeiro! Descobriram que em Cristo tem vida eterna e não precisam ficar com medo dos maus espíritos.

Depois de um vibrante testemunho contado por um senhor, jovens enfileirados vão entrando ao som de um apito marcando as fortes passadas e adentrando a sala cheia, apresentam cânticos especiais acompanhados por uma coreografia perfeita. Nas camisas pólo por eles desenhadas está escrito em azul num fundo branco nas costas: Igreja Evangélica Menonita, e na frente do lado esquerdo; DEUS É FIEL.

Todos são convidados a trazerem suas ofertas e dízimos; As mamás e papás com seus miúdos (crianças) como família, reverentemente depositam numa latinha improvisada o seu compromisso com Deus e a obra. São seguidos de igual maneira pelos demais. Irmãos, observando eu, vi que todos, isto mesmo, pasmem, todos, levaram suas ofertas. É uma igreja exemplo em tudo! Em seguida, respeitosamente a tesoureira Fátima pede a bênção do Senhor e consagra as ofertas, sem “apelação” para famigerada doutrina da prosperidade. É uma oração consciente, espiritual e profundamente dependente da graça de Deus que não falha.

Somos nesta altura do culto apresentados a igreja! Cada pastor se apresentando, fala em poucas palavras da alegria de estarem ali, os missionários também fazem o mesmo.

Segue-se, a mensagem pregada por Estevam; hoje, casado e por ter estado nos Estados Unidos, fala fluentemente o inglês, o português e alguns dialetos, ajudando na maioria das vezes como tradutor. Ele fala do poder da oração e incentiva a igreja a usar esta arma contra o inimigo.

O culto termina com a celebração da santa ceia por mim dirigida como convidado do Pr. Luiz.

Amados de todos os recantos. Esta igreja bem organizada com seus conselhos e também por uma comissão financeira cujo auditor é um empresário convertido (tio do Charles) para quem o conhece, têm hoje em seu caixa um valor de 27 mil meticais, aproximadamente mil e poucos dólares, um valor que talvez dê para terminarem sua igreja no bairro do Canangola.

Eles estão andando com as próprias pernas. Não recebem mais nada do Brasil, a não ser ofertas especiais de alguns irmãos missionários que estiveram servindo aqui e a igreja de Campinas que também ofertou especificamente para esta comunidade.

Para rebocar as paredes da igreja que já está coberta, contam com uma oferta de 15 mil meticais (quase seiscentos dólares), e ainda sobra um pouco para comprar as janelas e portas.

Trouxe comigo uma faixa de uns cinco metros por oitenta centímetros, doada e feita por um irmão da igreja Menonita de Vila Guarani que ama missões. Nela está escrito com letras bem grandes: IGREJA EVANGÉLICA MENONITA DO TETE. Ela será colocada no dia da inauguração deste templo que comportará comodamente mais de duzentas e cinqüenta pessoas.

Achamos o pão depois de muitos dias... (anos)! A igreja, não pode parar, não pode parar. Ela cresce, ela cresce! Não pode parar! Assim diz o cântico em Nhumgue cantado pelo povo de Deus na cidade do Tete.

Amados irmãos e irmãs, que a promessa de bênçãos do Senhor Salvador seja sobre cada um de vocês que tem persistido em semear e nos ajudar com suas ofertas e orações para enviar o pão a esta terra.

Em nome da igreja moçambicana, dos missionários que aqui estiveram em especial do missionário José Antonio de Bachi (em memória) e família, a diretoria da junta e parceiros do Brasil, Canadá, Estados Unidos, nosso agradecimento.

Ainda temos muito por fazer! Investimentos ainda precisam ser feitos! Muito em breve, Moçambique não será mais somente receptor do pão, MAS, parceiros no projeto missionário de Deus, para levar o mesmo pão aos demais países africanos. Nós acreditamos nisto! Deus seja louvado!

Paulo Campos




















 
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