quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Notícias de Moçambique V - "Mbia-bongue dá sua comida como oferta"

MBIA-BONGUE DÁ SUA COMIDA COMO OFERTA

Depois de andarmos km mato adentro que escondia a estrada esburacada pelas chuvas, chegamos onde estava a igreja (mais parecia uma palhoça), “casa” de bambu coberta por capim.

Vestidas com capulanas de colorido forte e lenços tipicamente enrolados na cabeça, as mulheres, algumas com seus filhos envolvidos em capulanas amarradas ao pescoço, pendurados como se fosse um saco nas costas, juntas aos homens portando camisas de mangas longas de preferência brancas, e calça social, sapatos surrados que tentavam esconder os dedos que insistiam em aparecer pelos buracos e muitas crianças na maioria descalças e jovens portando também o melhor que tinham, nos aguardavam com um misto de curiosidade e muita timidez.

Nem abrimos as portas do carro e o Pr. Paulo Armando Jecinau vem em nossa direção, com passadas largas para nos dar as boas vindas. Amados, portando uma jaqueta velha de jeans, camisa social branca e calças jeans, trazia pendurada ao pescoço uma câmera muito antiga, talvez uma Yashica que balançava pra lá e pra cá à medida que ele apertava seus passos. Sua roupa simples demonstra a pessoa humilde que ele é.

Sr. Campos, que bom que você voltou logo desta vez! Abraçamo-nos carinhosamente, e por ali mesmo juntos com o povo, os missionários se confundiam no meio dos abraços, e apertos de mãos.

Quando nos direcionávamos para a capela onde o culto estava prestes a começar, percebi que os olhares dos pastores escondiam lágrimas ao ver aquilo que eles carinhosamente nos apresentavam como “sua igreja”.

Amados, desde o ano passado quando aqui estive, vi que a velha capela tentava resistir ao tempo, mas, em vão! Estava com seus bambus todos escurecidos e ressecados, alguns que serviam de travessa já não estavam mais suportando o peso do leve e desarrumado capim visivelmente esvoaçado pelo vento.

Que tristeza, né? Não! meus irmãos! Tristeza nenhuma... todos ao entrarem fizeram daquele local, um local de adoração, muito louvor e danças ritmadas pelas palmas e um único atabaque tocado pelo filho do pastor que marcava o ritmo das músicas que subiam à presença do Senhor como aroma puríssimo.

Eles cantam e dançam sua fé por horas seguidas. Dão testemunho dizendo que Deus é bom! Que são felizes porque Deus tem abençoado suas machambas (hortas, plantações)!

Porque Deus tem lhes dado saúde, mesmo que entre eles, amados, muitos estejam doentes. Eles não reclamam! Eles não vivem mais com medo da feitiçaria, ou atormentados pelos espíritos maus. Não! Eles cantam e vivem a libertação que Cristo lhes deu.

Os muzungos esboçam uns pulinhos pra cá e pra lá, meio sem jeito é claro, olhando uns para os outros meio sem graça, e ao mesmo tempo tentando mostrar naturalidade! Mesmo fazendo o melhor que podem amados, é como o estrangeiro aí em nossa terra tentando pular samba.

O culto muitíssimo organizado segue a agenda previamente elaborada pelo Pr. Na igreja Menonita que mais cresce, cada um faz sua apresentação especial, seguida de um elogio e agradecimento do Pr. Logo a palavra é dada ao Pr. visitante, que neste dia foi o Pr. Jair da Comunidade de Brodowisk que veio conhecer nosso projeto.

Enquanto pregava sobre o cego de Jericó, dá seu testemunho vibrante, de como o Senhor Jesus o libertou do mundo do tráfico, dando-lhe uma nova vida. Todos admirados, já no final da mensagem, querem fazer a oração de entrega de suas vidas e pedirem cura, assim como Jesus fez com o cego de Jericó. Muitos aceitam a Jesus.

Agora amados, o Pr. com voz suave e olhar penetrante se dirige a igreja e diz: Irmãos enquanto cantamos uma música suave, vamos trazer as ofertas e dízimos para a “casa” do Senhor.

Sem atropelo, cada um vai se levantando e colocando em cima de uma mesa tosca coberta por uma pequena toalhinha, que serve de púlpito, suas moedas de pequeno valor, embora seja tudo que eles têm.

Nós também não querendo constrange-los; ofertamos notas de alto valor, se comparadas àquelas moedas, embora a intenção fora ajudá-los também com o melhor, sem que isto significasse o tudo que tínhamos.

De repente, quando todos já tinham voltado para os seus lugares, o Pr. disse novamente: Irmãos, agora vamos trazer ofertas para dar aos nossos irmãos que vieram do BrasiL. Achamos muito estranho este pedido do Pr. Jecinau! Eles acabaram de dar suas ofertas, como poderiam “coitados” dar ainda mais?

Com os olhos já marejados e vermelhos pelo esfregar dos dedos e lenços, incrivelmente vemos nossos irmãos moçambicanos entrando pela porta da frente em fila, cada um trazendo sua oferta. Que oferta irmãos! Ao som de seus cânticos de celebração dançavam e cantavam em nossa volta, cada um carregando sua oferta nas mãos e cabeças.

Cachos de bananas, melancias, abacaxis, espigas de milho, abóboras etc. A mesa ficou tão cheia que precisaram colocar no chão. É gente! Estas ofertas eram as primícias do sustento deles colhidas em suas machambas.

Tínhamos que dizer alguma coisa, mas o que falar? Nossa voz estava embargada! Usei a palavra, dizendo que nunca eu tinha visto isto em todo tempo que temos o projeto em Moçambique. Aqueles irmãos fizeram como os crentes de Corinto quando pediram a Paulo, que lhes deixassem contribuir para ajudar os irmãos da Judéia. Paulo escreve que eles “doaram a si mesmos primeiramente a Cristo”!

Quando nossa vida está inteiramente em Cristo, oferecemos com gratidão e sinceridade tudo que temos, sem reservas.

Assim amados, a igreja de Mbia-bongue deu sua comida como oferta. Foi muito sublime e fortemente tocante. Esta e outras atitudes frente à miséria, fome e dor deste povo, nos levaram a refletir, o quanto somos ricos. O quanto podemos e devemos fazer para mudar esta situação sacudindo nosso regaço assim como eles fizeram.

A igreja brasileira e parceiros estão fazendo sua parte! Mas, ainda não é o seu tudo! Tenho plena certeza que cada um pode talvez triplicar suas ofertas, que isto não lhes fará falta alguma. Desafio o amado irmão a orar, interceder por este povo, mas também abrir o tesouro que está em seu coração.

Caso um dia eu retorne a Mbia-bongue, não vou ver mais aquela “palhoça” e sim uma igreja construída de tijolos, mesmo que coberta de zinco ou Eternit. Graças à contribuição de alguns irmãos, doada especificamente para esta comunidade, vamos neste ano começar a levantar as paredes desta igreja.

Amados, a diretoria da junta está deixando aqui com os missionários, um valor expressivo que dará para levantar as paredes desta valorosa comunidade. Que o Deus Salvador os abençoe ricamente, para que tenhais como ajudar estes que tanto necessitam.

A honra seja toda dada ao Senhor Jesus.

Paulo Campos





 
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